Vertismed Brasil | Imunogenicidade induzida com uso de plataformas vacinais alternativas para suprir a escassez de oferta de vacinas em países em desenvolvimento: resultados de dois estudos clínicos randomizados

Imunogenicidade induzida com uso de plataformas vacinais alternativas para suprir a escassez de oferta de vacinas em países em desenvolvimento: resultados de dois estudos clínicos randomizados

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A escassez do componente II da vacina Sputnik V (rAd5) dificultou e atrazou a imunização completa com esta vacina. Os participantes deste estudo vacinados com uma primeira dose do componente I rAd26 da vacina Sputinik foram designados (1:1:1:1:1) para receber uma segunda dose de vacina covid-19 de plataforma de vetor viral não relicante (rAd5 [Sputinic V]; ChAdOx1 [AstraZeneca]; rAd26 [Sputinik V); ou plataforma de RNA mensageiro (mRNA-1273 [Moderna]); ou plataforma inativada (BBIBP-CorV [Sinopharm]). Considerou-se como desfecho primário a razão média geométrica (GMR) da concentração de IgG específico para a proteía spike (S) de SARS-CoV-2 28 dias após a segunda dose, sendo comparados os grupos rAd26/rAd5, rAd26/ChAdOx1, rAd26/rAd26, rAd26/mRNA-1273 e rAd26/BBIBP -CorV. Foram conduzidos dois estudos randomizados de não inferioridade com intuito de determinar se as respostas imunes induzidas com uso de esquemas vacinais alternativos não são inferiores ao esquema padrão de Sputinik V (rAd26/rAd5). Ambos os estudos foram realizados em Buenos Aires, Argentina. Entre 6 de julho e 3 de agosto de 2021, 540 pessoas (idade 56,7 [DP 7.3]; 243 (45%) mulheres) foram aleatoriamente designadas para receber rAd5 (n=150); ChAdOx1 (n=150); rAd26 (N=87); mRNA-1273 (n=87) ou BBIBP-CorV (n=65). 524 participantes completaram o estudo. Em comparação com o grupo controle rAd26/rAd5 (1,00), o GMR (IC 95%) no dia 28 foi de 0,65 (0,51-0,84) entre aqueles que receberam ChAdOx1; 0,47 (0,34-0,66) no grupo rAd5; 3,53 (2,68-4,65) no grupo mRNA-1273 e 0,23 (0,16-0,33) no grupo BBIBP-CorV. A média geométrica (UI/mL) encontrada no baseline até o dia 28 em cada grupo aumentou significativamente com ChAdOx1 (4,08 (3,07-5,43)); rAd26 (2,69 (1,76-4,11)); mRNA-1273 (21,98 (15,45-31,08)), mas não em BBIBP-CorV (1,22 (0,80-1,87)). Com exceção do mRNA-1273 que se mostrou superior, a não inferioridade foi rejeitada em todas as alternativas vacinais avaliadas nos estudos. A segurança e a imunogenicidade geradas pela substituição do componente II da vacina Sputnik V por vetores virais não replicantes, vacinas baseadas em mRNA ou plataformas de vírus inativados foram também reportadas. 28 dias pós-randomização, todas as plataformas, exceto a de vírus inativado, foram capazes de aumentar significativamente os níveis de neutralização viral e anticorpos anti-S. De maneira importante, exceto para mRNA-1273 que se mostrou superior, a não inferioridade foi rejeitada em todos os outros regimes vacinais. O grupo que recebeu vírus inativado apresentou parâmetros estatisticamente inferiores em relação ao grupo que recebeu a combinação de duas doses de Sputnik V. Os resultados, portanto, mostram que o componente II de Sputnik V pode ser substituído por uma plataforma de mRNA. Embora tenham sido observados aumentos nos títulos de anticorpos utilizando plataformas virais não replicativas, estas não atingiram o limite estabelecido de não inferioridade proposto no estudo. Tendo em visto o surgimento de novas mutações que podem levar ao surgimento de linhagens mais agressivas de SARS-Cov-2, os resultados contribuem para a tomada de decisão de órgãos de saúde em contextos de escassez de vacinas. Além disso, essa evidência sugere que a troca de plataforma vacinal pode ser considerada uma opção importante em programas de reforço adicionais. Em comparação ao esquema padrão (rAd26/rAd5), os títulos de anticorpos neutralizantes foram significativamente maiores no grupo que recebeu rAd26/mRNA-1273 [5,83 (4,02 a 8,46)] e significativamente menores naqueles que receberam rAd26/ChAdOx1 [0,61 (0,43 a 0,86)], rAd26/rAd26 [0,56 (0,37 a 0,86)] e rAd26/BBIBPCorV [0, 11 (0,07 a 0,17)]. A maior concentração de anticorpos neutralizantes (≥ 1/256) foi observada em 69,3% dos participantes do grupo mRNA-1273 e em 21,5%, 12,8%, 11,3% e 4,8% dos participantes que receberam rAd26/rAd5, rAd26/rAd26, rAd26/ChAdOx1 e rAd26/BBIBP-CorV, respectivamente. Adicionalmente, a ausência de títulos de anticorpos neutralizantes não foi detectada no grupo rAd26/mRNA-1273. Diferentemente, 2,0% dos integrantes do estudo que receberam rAd26/rAd5, 2,3% daqueles vacinados com rAd26/ChAdOx1 ou rAd26/rAd5 e 17,5% dos participantes do grupo rAd26/BBIBP-CorV não apresentaram títulos no dia 28 (Figura 2B). Nenhum evento adverso grave foi relatado em nenhum dos braços do estudo, indicando que as vacinas administradas e assim como todos os esquemas de imunização são seguros. A reactogênese foi maior com a vacina Moderna (mRNA-1273), seguida pelas plataformas virais não replicantes. O grupo que recebeu a vacina de vírus inativado apresentou reações adversas significativamente menores (tabela 3). A escassez de vacinas é um problema de saúde global pois ameaça o direito à saúde, aumentando a probabilidade de que novas mutações virais surjam fazendo com que a pandemia se prolongue. O principal achado dos estudos consiste no fato de que as plataformas virais não replicantes assim como as baseadas em vírus inativados são metodologicamente – pelo menos em termos canônicos – alternativas válidas para substituir ou trocar esquemas para indivíduos que receberam primeira dose de Sputnik V. A vacina da Moderna como segunda dose, por sua vez, resultou em títulos de anticorpos mais altos em relação aos outros esquemas vacinais. As mesmas conclusões foram observadas para os anticorpos neutralizantes, altamente preditivos na proteção imunológica contra a infecção sintomática por SARS-CoV-2. Em realidade, as questões que circundam a vacina Sputnik V vão muito mais além de sua eficácia e disponibilidade. A publicação dos estudos de fase I/II e III no The Lancet no início de 2021 promoveu enorme visibilidade da vacina russa, no entanto, desde então, existem muitos dados faltantes que não foram compartilhados. Em conclusão, os achados confirmam e ampliam o conhecimento já relatado sobre a eficácia da intercambialidade das vacinas adenovirais com aquelas baseadas em tecnologia de RNA e não com outras da mesma plataforma ou aquelas baseadas em vírus inativados. Esses resultados também enfatizam a importância da disponibilidade das vacinas para realização de esquema completo de vacinação cientificamente eficaz.

Referência:
Macchia A, Ferrante D, Bouzas MB, Angeleri P, Biscayart C, Geffner J, Mammana L, Zapiola I, López EL, Gentile A, Varese A, Mazzitelli I, García FDD, Sharff D, Lucconi V, Sujansky P, Mariani J, de Quirós FGB. Immunogenicity induced by the use of alternative vaccine platforms to deal with vaccine shortages in a low- to middle-income country: Results of two randomized clinical trials. Lancet Reg Health Am. 2022 May;9:100196. doi: 10.1016/j.lana.2022.100196. Epub 2022 Feb 2. PMID: 35128512; PMCID: PMC8808427.

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