Vertismed Brasil | IMPACTO PSICOSSOCIAL DA PUBERDADE PRECOCE E PUBERDADE PRECOCE CENTRAL PÓS-COVID-19

IMPACTO PSICOSSOCIAL DA PUBERDADE PRECOCE E PUBERDADE PRECOCE CENTRAL PÓS-COVID-19

Tiempo de lectura: 3 minutos

Prof. Dr. Vinicius Nahime Brito
CREMESP 84778
Endocrinologia e Metabologia

Os impactos psicossociais da puberdade precoce não somente sobre os pacientes, mas também sobre os pais ou cuidadores são inúmeros (1). Uma revisão sistemática recente demonstra que sobre os pacientes, destaca-se o estresse e maior reatividade emocional, o isolamento social resultando em menor competência social, cognitiva e acadêmica, a não aceitação da imagem corporal que é diferente dos pares, além do sentimento de medo e solidão (1). Em relação aos pais ou cuidadores, a ansiedade, o sentimento de culpa, o medo, traços depressivos e mesmo a dificuldade de aceitação da imagem corporal da criança estão entre os impactos mais relevantes do desenvolvimento puberal precoce (1). Tais efeitos contribuem para a redução dos escores de qualidade de vida do paciente e familiares, como demonstrado em um estudo que evidenciou comprometimento das funções emocionais, sociais e físicas de crianças com puberdade precoce central (PPC) comparadas com um grupo controle (2).  Os efeitos benéficos do bloqueio puberal sobre alguns parâmetros como redução do estresse e aceitação da imagem corporal são também destacados nesta revisão (1, 3).

              Em condições habituais, o diagnóstico de puberdade precoce resulta em estresse e ansiedade nos pacientes e familiares. Quando situações estressantes externas são impostas, como ocorreu com a pandemia de COVID-19, que resultou em profunda mudança nos hábitos de vida da população, as crianças e adolescentes representaram um subgrupo impactado em vários aspectos, inclusive no seu desenvolvimento puberal (4 -6).

              O aumento no número de casos de PPC, puberdade rapidamente progressiva e menarca adiantada em meninas durante o isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19 foi relatado inicialmente na Itália, e posteriormente em outros países, como Turquia, Índia, China, Espanha e outros (4, 6). Diversos fatores foram apontados para explicar tal fenômeno, dentre eles as mudanças no estilo de vida, fatores emocionais e psicológicos (estresse), exposição excessiva a telas, alterações no sono e secreção de melatonina, mudança de hábitos alimentares e sedentarismo resultando em sobrepeso ou obesidade, exposição maior aos desreguladores endócrinos químicos, deficiência de vitamina D, e até mesmo um efeito direto da infecção pelo Sars-Cov2 no sistema endócrino, via receptores de ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2), glutamato e GABA (ácido gama-amino-butírico), além de efeitos de catecolaminas, cortisol e outros mediadores (4 – 6). De forma interessante, um fator de risco para PPC apontado por um dos estudos foi a menor idade de menarca da mãe (< 12 anos), sugerindo que um fator genético pode estar também envolvido (4). Outros países confirmaram parcialmente os dados dos estudos italianos, no entanto, alguns relatos não demonstraram o aumento de incidência e prevalência de PPC, mas sim de obesidade (7).

              Um estudo brasileiro envolvendo 55 meninas com puberdade precoce (33 diagnosticadas antes da pandemia e 22 diagnosticadas durante a pandemia), demonstrou associação entre puberdade precoce durante a pandemia e maior peso corporal, porém com menor volume ovariano quando comparado com 33 diagnosticadas antes da pandemia (8). Durante a pandemia, o menor intervalo entre a percepção de desenvolvimento mamário pelos pais e o diagnóstico de puberdade precoce também representou um fator determinante para a identificação mais rápida dos casos.

              Desta forma, os resultados conflitantes indicam que estudos mais amplos, com maior número de participantes, incluindo áreas geográficas mais amplas, são necessários para confirmar a maior incidência e prevalência de PPC durante a pandemia de COVID-19, podendo representar uma oportunidade para identificar a influência dos fatores ambientais sobre o desenvolvimento puberal e desenvolver medidas preventivas (4-8).

Referências

1- López-Miralles M, Lacomba-Trejo L, Valero-Moreno S, Benavides G, Pérez-Marín M.  Psychological aspects of pre-adolescents or adolescents with precocious puberty: A systematic review. J Pediatr Nurs. 2022 May-Jun;64:e61-e68. doi: 10.1016/j.pedn.2022.01.002. 

2- Klein KO, Soliman AM, Grubb E, Nisbet P.  A survey of care pathway and health-related quality of life impact for children with central precocious puberty. Curr Med Res Opin. 2020 Mar;36(3):411-418. doi: 10.1080/03007995.2019.1699517.

3- Menk TAS, Inácio M, Macedo DB, Bessa DS, Latronico AC, Mendonca BB, Brito VN. Assessment of stress levels in girls with central precocious puberty before and during long-acting gonadotropin-releasing hormone agonist treatment: a pilot study. J Pediatr Endocrinol Metab. 2017 May 24;30(6):657-662.

4- Fu D, Li T, Zhang Y, Wang H, Wu X, Chen Y, Cao B, Wei H.  Analysis of the Incidence and Risk Factors of Precocious Puberty in Girls during the COVID-19 Pandemic.Int J Endocrinol. 2022 Sep 28;2022:9229153. doi: 10.1155/2022/9229153.

5- Gnocchi M, D’Alvano T, Lattanzi C, Messina G, Petraroli M, Patianna VD, Esposito S, Street ME. Current evidence on the impact of the COVID-19 pandemic on paediatric endocrine conditions. Front Endocrinol (Lausanne). 2022 Aug 5;13:913334. doi: 10.3389/fendo.2022.913334.

6- Street ME, Sartori C, Catellani C, Righi B. Precocious Puberty and Covid-19 Into Perspective: Potential Increased Frequency, Possible Causes, and a Potential Emergency to Be Addressed. Front Pediatr. 2021 Sep 20;9:734899. doi: 10.3389/fped.2021.734899.

7- Roh SM, Eun BW, Seo JY. Does coronavirus disease 2019 affect body mass index of children and adolescents who visited a growth clinic in South Korea?: a single-center study. Ann Pediatr Endocrinol Metab. 2022 Mar;27(1):52-59. doi: 10.6065/apem.2142082.041.

8- Oliveira Neto CP, Azulay RSS, Almeida AGFP, Tavares MDGR, Vaz LHG, Leal IRL, Gama MEA, Ribeiro MRC, Nascimento GC, Magalhães M, Santos WCD, Facundo AN, Faria MDS, Lago DCF.Differences in Puberty of Girls before and during the COVID-19 Pandemic. Int J Environ Res Public Health. 2022 Apr 14;19(8):4733. doi: 10.3390/ijerph19084733.

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