Vertismed Brasil | Impacto da pandemia por COVID-19 na incidência de puberdade precoce central

Impacto da pandemia por COVID-19 na incidência de puberdade precoce central

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A puberdade é um processo de maturação biológica que envolve fatores genéticos, nutricionais, étnicos, ambientais e de estilo de vida. O estímulo para o seu início é a mudança do padrão de secreção de hormônios pelo hipotálamo e hipófise, embora os mecanismos completos desse processo não estejam totalmente esclarecidos.1 A definição clássica para puberdade precoce é o surgimento do broto mamário (telarca) nas meninas antes dos 8 anos e o aumento do volume testicular nos meninos antes dos 9 anos de idade, sendo a sua incidência cerca de 15-20 vezes maior nas meninas. A puberdade precoce é classificada em central (PPC) quando ocorre maturação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gônada, forma mais frequente, e periférica (PPP), quando há secreção excessiva de hormônios sexuais de fonte tumoral, exógena ou secundária a doenças genéticas, independentemente da secreção do eixo.2

            Após o início da pandemia por COVID-19, notou-se um aumento das consultas e encaminhamentos médicos para avaliação de puberdade precoce.3 Os primeiros estudos foram publicados ainda em 2020, em diferentes centros da Itália, demonstrando um maior número de diagnósticos de PPC em comparação com o período antes do lockdown, e posteriormente outros centros em diferentes países foram detectando o mesmo fenômeno.4

            A partir dessas observações, foi realizada esta revisão sistemática da literatura com o objetivo de avaliar a incidência de PPC antes e durante a pandemia por COVID-19 em diferentes países.5 Foi realizada a busca nas bases de dados MEDLINE e Embase e foram identificados  23 estudos de 11 países que preencheram os critérios de elegibilidade. Desses, 22 trabalhos encontraram um aumento de 1,3 até 5 vezes no número de casos de PPC em meninas. Nos meninos, 4 estudos não encontraram diferença significativa na incidência, 3 estudos detectaram aumento de 2,8 a 3,4 vezes no número de casos de PPC, e 1 estudo reportou uma redução de 75% no diagnóstico.

            Na revisão sistemática, foram identificados trabalhos que encontraram um aumento no uso de dispositivos eletrônicos, maior comportamento sedentário, maior ganho de peso e índice de massa corporal (IMC), maior taxa de distúrbios do sono e menor idade de início da puberdade durante a pandemia. Por outro lado, alguns estudos não identificaram nenhuma diferença clínica ou laboratorial significativa entre o período pré-pandemia e o de pandemia.

            Em conclusão, houve um aumento na incidência de puberdade precoce durante a pandemia por COVID-19 nas meninas, o que não foi demonstrado nos meninos. Fatores que possivelmente podem estar relacionados a esse fenômeno são o aumento do tempo de tela, a redução da atividade física, os fatores psicológicos, a mudança nos hábitos alimentares e efeitos diretos do vírus SARS-CoV-2.

 

Referências:

  1.  Brito VN, Canton APM, Seraphim CE, Abreu AP, Macedo DB, Mendonca BB, Kaiser UB, Argente J, Latronico AC. The Congenital and Acquired Mechanisms Implicated in the Etiology of Central Precocious Puberty. Endocr Rev. 2023;44(2):193-221.
  2. Cheuiche AV, da Silveira LG, de Paula LCP, Lucena IRS, Silveiro SP. Diagnosis and management of precocious sexual maturation: an updated review. Eur J Pediatr. 2021;180(10):3073-3087.
  3. Street ME, Sartori C, Catellani C, Righi B. Precocious Puberty and Covid-19 Into Perspective: Potential Increased Frequency, Possible Causes, and a Potential Emergency to Be Addressed. Front Pediatr. 2021;9:734899.
  4. Prosperi S, Chiarelli F. Early and precocious puberty during the COVID-19 pandemic. Front Endocrinol (Lausanne). 2023;13:1107911.
  5. Cheuiche AV, Moro C, Silveiro SP, Czepielewski M, de Paula LCP. Impact of the covid-19 pandemic on the incidence of central precocious puberty: a systematic review. Horm Res Paediatr (2023) 96 (Suppl. 2): 121.
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