Vertismed Brasil | Efeitos psicossociais da puberdade precoce: uma breve síntese

Efeitos psicossociais da puberdade precoce: uma breve síntese

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Sabrina Pani – CRP 06/76663

Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo com período sanduíche na Universidade de Bolonha. Graduada em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004), possui especialização em Saúde Coletiva pelo Instituto de saúde – SES. Possui mais de 15 anos de experiência clínica com crianças e adolescentes e atualmente participa de formação em Psicanálise Winnicottiana no Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana, IBPW.

A puberdade é um período de transição na vida dos sujeitos que se caracteriza por mudanças físicas, hormonais e psicológicas. As mudanças biológicas da puberdade incluem o desenvolvimento dos seios em meninas, o crescimento de pelos pubianos e axilares em ambos os sexos, o crescimento ósseo acelerado, o aumento da altura e a maturação dos órgãos sexuais[i]. Normalmente, a puberdade ocorre entre os 8 e 14 anos de idade em meninas, e entre os 9 e 15 anos em meninos [ii].  A puberdade precoce é um fenômeno que tem chamado a atenção de especialistas nas últimas décadas. Trata-se de uma condição em que o desenvolvimento sexual ocorre antes da idade considerada normal para cada gênero, ou seja, antes dos 8 anos em meninas e 9 anos em meninos[iii]. Embora seja mais comum em meninas do que em meninos, a puberdade precoce afeta ambos os gêneros e pode ter efeitos significativos na saúde psicossocial das crianças afetando sua saúde mental, comportamento social e relacionamentos interpessoais.

Os efeitos psicossociais incluem problemas emocionais e comportamentais tais como baixa autoestima, ansiedade, depressão, agressividade, impulsividade e isolamento social[iv].  As crianças afetadas podem ter dificuldades em se adaptar às mudanças físicas e hormonais que ocorrem durante a puberdade, o que pode levar a uma sensação de estranheza e desconforto com seus corpos[v]. Isso pode, por sua vez, afetar sua autoestima e levá-los a se sentir diferentes e inadequados em comparação com seus colegas.

Estudos têm mostrado que crianças com puberdade precoce apresentam maior prevalência de transtornos de ansiedade e depressão em comparação com crianças que passam pela puberdade em idade normal[vi]. A depressão é especialmente comum em meninas que experimentam a puberdade precoce, com taxas de depressão aumentando em 70% em meninas que entram na puberdade antes dos 11 anos. [vii]

A puberdade precoce pode afetar a autoestima das crianças e adolescentes, pois as mudanças físicas ocorrem antes que a criança esteja emocionalmente preparada para lidar com elas. As meninas que entram na puberdade precoce são particularmente vulneráveis ​​a problemas de autoestima, pois podem se sentir deslocadas em relação aos seus pares que ainda não passaram pela puberdade[viii].

Além disso, a puberdade precoce pode levar a uma maior exposição a situações de bullying e assédio, o que pode afetar negativamente a saúde mental da criança. Um estudo com adolescentes mostrou que aqueles com puberdade precoce têm maior probabilidade de serem vítimas de bullying, especialmente devido às mudanças físicas que ocorrem precocemente[ix].

Outro efeito psicossocial importante da puberdade precoce é a sexualização precoce. As crianças que passam por essa condição podem ter que lidar com questões sexuais e românticas muito mais cedo do que seus colegas da mesma idade, algo que é possivelmente muito desafiador para sua maturidade emocional e cognitiva. Além disso, a sexualização precoce pode aumentar o risco de comportamentos sexuais de risco, como o início precoce da atividade sexual e o uso de contraceptivos inadequados. Estudos mostram que adolescentes com puberdade precoce apresentam maior probabilidade de iniciar atividade sexual mais cedo, em comparação com adolescentes que passam pela puberdade em idade normal [x],[xi].

A puberdade precoce também pode alterar o relacionamento das crianças com seus pais e familiares. As crianças que passam por essa condição podem sentir que seus pais não entendem suas necessidades e preocupações, levando a possíveis conflitos e distanciamento emocional.  Portanto, quando a puberdade ocorre muito cedo as crianças podem ter dificuldades em lidar com as mudanças emocionais e relacionais associadas à maturidade sexual. Tal situação pode levar a conflitos familiares e a uma sensação de alienação emocional por parte dos pais e dos filhos. [xii]

É importante ressaltar que a puberdade precoce não afeta todas as crianças da mesma forma, e que os efeitos psicossociais podem variar dependendo de fatores como gênero, raça, cultura e ambiente familiar. Por exemplo, um estudo mostrou que meninas com puberdade precoce têm maior probabilidade de apresentar problemas de imagem corporal e transtornos alimentares do que meninos com puberdade precoce [xiii]

A intervenção médica e psicológica pode ajudar a minimizar os efeitos psicossociais da puberdade precoce. O tratamento pode envolver o uso de medicamentos para bloquear a produção de hormônios sexuais, que podem ser prescritos por um endocrinologista. A psicoterapia também pode ser uma opção para ajudar as crianças e aos seus pais a lidarem com as mudanças emocionais e sociais associadas à puberdade precoce.

Em resumo, a puberdade precoce pode ter efeitos psicossociais significativos e duradouros nas crianças que passam por essa condição. O estresse emocional, a exposição ao bullying e assédio, a sexualização precoce e a alteração do relacionamento com os pais são alguns dos efeitos negativos mais comuns. No entanto, é importante lembrar que nem todas as crianças serão afetadas da mesma forma, e que intervenções médicas e terapêuticas podem ajudar a minimizar os efeitos negativos.

Referências:

[i]Parent AS, Teilmann G, Juul A, Skakkebaek NE, Toppari J, Bourguignon JP. The Timing of normal puberty and age limits of sexual precocity: variations around the world, secular trends and changes after migration. Endocrinol Rev. 2003;24:668-93.

[ii] Marchall WA, Tanner JM. Variations in the pattern of pubertal changes in girls and boys. Arch Dis Child. 1969;44:291-303.

[iii] Maia, J., Bordini, B., de Souza, F. G., Meirelles, R. M. S., & Barros, M. D. C. (2021). Early puberty in girls: a review of the psychosocial and behavioral effects. Archives of Endocrinology and Metabolism, 65(3), 304-310.

[iv] Ellis B. J. (2004). Timing of pubertal maturation in girls: An integrated life history approach. Psychological Bulletin, 130, 920–958.

[v] Mendle J., Harden K. P., Brooks-Gunn J., Graber J. A. (2010). Development’s tortoise and hare: Pubertal timing, pubertal tempo, and depressive symptoms in boys and girls. Developmental Psychology, 46, 1341–1353.

[vi] Ozen, S., Darcan, S., & Can, G. (2018). Psychosocial effects of early puberty. Journal of pediatric endocrinology & metabolism: JPEM, 31(12), 1297-1304

[vii]Negriff S, Susman EJ, Trickett PK. The developmental pathway from pubertal timing to delinquency and sexual activity from early to late adolescence. Journal of Youth and Adolescence. 2011;40:1343-56.

[viii] Negriff S, Susman EJ, Trickett PK. The developmental pathway from pubertal timing to delinquency and sexual activity from early to late adolescence. Journal of Youth and Adolescence. 2011;40:1343-56.

[ix] Mendle, J., Turkheimer, E., & Emery, R. E. (2007). Detrimental psychological outcomes associated with early pubertal timing in adolescent girls. Developmental Review, 27(2), 151-171.

[x] Gonçalves, H., González‐Roma, V., Peiró, J. M., & Tordera, N. (2016). Pubertal timing and sexual risk behaviors among adolescent boys. Journal of Research on Adolescence, 26(1), 106-115.

[xi] Maia, J., Bordini, B., de Souza, F. G., Meirelles, R. M. S., & Barros, M. D. C. (2021). Early puberty in girls: a review of the psychosocial and behavioral effects. Archives of Endocrinology and Metabolism, 65(3), 304-310.

[xii] Maia, J., Bordini, B., de Souza, F. G., Meirelles, R. M. S., & Barros, M. D. C. (2021). Early puberty in girls: a review of the psychosocial and behavioral effects. Archives of Endocrinology and Metabolism, 65(3), 304-310.

[xiii] Calzo, J. P., Horton, N. J., Sonneville, K. R., Swanson, S. A., Crosby, R. D., Micali, N., & Austin, S. B. (2016). Male eating disorder symptoms and pubertal development: a longitudinal study. Journal of Adolescent Health, 59(4), 391-396.

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